Por detrás da gripe A
Agora que os noticiários já quase não falam da gripe A, surgiu a informação de que os ganhos da indústria farmacêutica por causa e em função desta estirpe (...) estão sob suspeita do Conselho da Europa...
Agora que os noticiários já quase não falam da gripe A, surgiu a informação de que os ganhos da indústria farmacêutica por causa e em função desta estirpe (cinco mil milhões de euros, fora a valorização das acções, o que corresponde a cerca de 1,5 vezes o PIB do desgraçado Haiti!) estão sob suspeita do Conselho da Europa que, aliás, vai debater e criar uma comissão para avaliar a pressão que, alegadamente, poderá ter sido exercida sobre a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Compreendo todas as cautelas e prevenções sobre o que se anunciava como uma grave pandemia mundial. É daquelas situações em que mais vale errar por excesso do que por defeito. Mas hoje, face à avaliação parcial que já se pode fazer, estaremos provavelmente perante um claro exagero de previsão. Basta recordar que a OMS chegou a aventar a hipótese de poder haver mais de 70 milhões de mortes e até agora terem-se verificado menos de 13000!
Em Portugal, onde nos foi permanentemente incutido um cenário alarmista e negro, com conferências de imprensa em catadupa "por dá cá aquela palha" e com a previsão de encerramentos temporários desde escolas a fábricas até igrejas e práticas desportivas, houve até agora 83 mortes, valor muito aquém da gripe sazonal (2000 óbitos por ano). Ao menos que esse exagero tenha trazido uma vantagem adicional: a de incitar e habituar as pessoas a uma maior cultura de higiene e profilaxia.
As vacinas e antivirais adquiridos pelos países mais desenvolvidos sobejam por todo o lado. Primeiro por pouca certeza da OMS (duas doses da vacina primeiro e logo a seguir apenas uma), depois porque as pessoas se aperceberam de que a situação não seria tão trágica quanto se previra. Em França, por exemplo, compraram-se 94 milhões de doses e só se usaram 5%! Os grandes beneficiários desta gestão desastrosa foram, de facto, os laboratórios!
Em escala logarítmica, repetiu-se a histeria sanitarista que, nos últimos anos, já se viu com a gripe das aves, a doença das vacas loucas e outros vírus. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Nesta voragem de psicose colectiva, a técnica do pavor não é necessariamente boa conselheira...
Sou dos que pensam que a relação entre a OMS e a indústria da saúde deveria ser mais cristalina e escrutinável. Só por ingenuidade é que se pode achar que não há pressões num sector que move rios de dinheiro e de interesses.
Assim, o que se constata é a uma verdadeira "pandemia de lucro" embora paradoxalmente concentrada, que evidencia como poderosos interesses industriais e económicos são capazes de influenciar os decisores institucionais, os media e, por fim, os políticos.
A gripe A foi, aliás, sempre abordada como um problema de saúde focado nos países do 1º mundo, enquanto continuam a morrer diariamente milhares de pessoas nos países pobres com malária que se pode facilmente prevenir, com cólera e outras afecções evitáveis com um simples soro. Estes problemas, porém, nunca são notícia nem movem a comunidade internacional porque não são economicamente atractivos e lucrativos.
____
António Bagão Félix, Economista
Fonte: Económico
Uma palhaçada alarmista essa gripe A. E o pior que nem era uma coisa velada, conspiracional. Nos noticiários, pelo escândalo que se fez, parecia uma doença mortal, sem chances de salvação. Haveriam milhões de mortes, como na época da Peste Negra ou da Gripe Espanhola. Porém, cada vez que se fazia o balanço das mortes, eu me perguntava "pra quê esse escândalo todo?". Aliás, falando em Cólera e Malária, cá no Brasil já aconteceram alarmismos desse tipo quando a doença aqui chegou, o mesmo ocorrendo no caso da Dengue e da AIDS. Hoje, parece que nem existem tais doenças, com campanhas tímidas de esclarecimento e precaução.
ResponderEliminar